sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Soneto Aos Amantes

Você me faz querer viver
E o que é nosso está guardado
Dentro de nós, bem trancado
À sete chaves, para sobreviver

Mãos seguindo as borboletas
Lábios se mordendo em paixão
O tempo, morto, num caixão
Percorrendo nossas sarjetas

Pernas se confundindo
Novos caminhos se formam
Nosso ar se esvaindo

As faces se transformam
Se contorcem em prazer
Para findar e renascer

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Acomodado

Se sangra meu coração
Ou a morte vem me beijar
Eu nem perco o meu ar
Pois eu sou um simples vão

Não tenho paixão nem razão
Não ligo se me maldizem,
Desvalorizem ou escravizem
Pois eu sou um simples vão

Não quero saber do mundo
Pois sou um mero vagabundo
Alheio às brigas e ao sermão

Me aquieto em qualquer lugar
Parado, vejo o tempo passar
Pois eu sou um simples vão

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Me Consome

Já pensei de tudo um pouco
Em esquecer de te amar
Em ir embora, me refugiar
Até pensei que estava louco

Tentei abandonar o mundo
Me afogar no meu choro
Viver a base de soro
Como um pobre moribundo

Mas isso eu não consigo
Pois é tudo tão maior
E grande é nosso castigo

Na eternidade fica pior
Amor que nunca some
Volta e me consome!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu Preciso De Você

Eu preciso de você
Como um bolo precisa de areia
Como uma mosca precisa da teia
Ou um doutor, d'um livro de ABC

Eu preciso do teu amor
Como um faquir precisa de comida
Como um diabético, de uma ferida
Ou das vaias, precisa o cantor

Eu preciso te ter!
Como um morcego precisa do sol
Como o peixe precisa do anzol
Ou um anoréxico, de emagrecer

Eu pereciso da tua presença
Como da miséria, os plebeus
Como um ateu anseia por dEUS
Ou melhores amigos, de uma desavença


Por favor, não vá embora!
Preciso terminar esse poema
Ou vai me deixar com problema
Meu contrato ainda vigora!

domingo, 31 de outubro de 2010

Fada

Depois de uma garrafa de absinto, eis que nos surge uma inspiração realmente horrorshow! Mostro-lhes, ó, queridos leitores, o que nasceu naquela noite banhada de verde!












De repente, vi uma fada

Uma fada verde, uma fada quente
Uma fada caliente
Aguçando a minha mente

Entrelaçando o meu corpo
Nas tripas, sinto um aborto
No meu corpo sinto um calor
Um calor verde
Que na minha rede
Faz-me gozar, sonhar de amor

E nestes versos sucintos
Com goles de absinto

Sinto em minha mente
Alegria, nestes versos dormentes
Lembranças e tristezas presentes
Do verde que um dia foi presente!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fiat Lux

Os maiores sacrifícios
As maiores dores
Todos os dissabores
Com poucos artifícios

Nos viramos em mil
Pra cumprir uma missão
E a fazemos com paixão
Com o coração febril

Sem amor, não anda
Trabalho mal feito
Não temos o despeito
De entrar nessa ciranda

Incitamos a curiosidade
Do infinito saber
É o belo alvorecer
Que as cabeças invade

É o brilho do sol
Raiando o dia
Trazendo a alforria
Lento qual caracol

O trabalho é duro
Às vezes, nem compensa
Caçada sem recompensa
Mas é honrado e puro

É essa honra que nos conduz
E temos autoridade de dEUS
Pra dizer aos filhos teus:
Faça-se a luz!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Teimosia

Ora quero, ora não
Ora beijo, ora bato
Ora bom, ora chato
Ora espero, em oração

Horas a fio
Passam devagar
Fico a esperar
Aquele arrepio

Nem tanto assim
Nem oito, nem oitenta
Nem três ele aguenta
É bom, mas não pra mim

É tudo o que preciso
Bonito, inteligente
Um futuro pela frente
E chegou sem aviso

Bonito... pode ser
Inteligente... também
Mas ele não me convém
Ele só quer aparecer

Vou me atirar fundo
Me jogar em seus braços
Já anseio os amassos
E nascer a cada segundo

Já não escuta a razão
Não raciocina mais
Já está longe do cais
Só ouve seu coração

Essa história já presenciei
Vai mergulhar no mar
E depois, vai se afogar
Só não diga que não avisei

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Coração De Poeta

Pronto para encantar
Como num passe de mágica
Ou como morte trágica
Pode te fazer chorar

Não tem rosto, nem medo
Nem tamanho, nem idade
Nem peso, nem saudade
Nem vida, nem enredo

Não é doce, nem azedo
Não é cura, nem veneno
Nem grande, nem pequeno
Nem água, nem rochedo

É tudo e também nada
É vida e também morte
É azar e a melhor sorte
E nem todos agrada

Não é meu nem é seu
De todos e de ninguém
Faz o que lhe convém
Para nobre ou plebeu

É começo, meio e fim
É dEUs e diabo
No seu verso desabo
É tudo de bom e ruim

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Senhora

Tens tua raiz nativa
Em teu nome és senhora
E chegas sem demora
Das bocas, escorre saliva

Dizem que do bom veneno
Basta apenas uma dose
Pra viver em simbiose
E tu és um frasco pequeno

Mas és toda tentação
Apesar de ser perigosa
Yin, mulher audaciosa

Antes de pedir permissão
Rasga como boa mordida
Amores sem peso ou medida

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amarguras De Um Gauche

Quero ser palhaço
Mas não faço rir
Quero ir pro espaço
Mas terei que partir

Quero ser ator
Mas não sei representar
Quero ser cantor
Mas não sei solfejar

Quero ser violonista
Mas não sei dedilhar
Quero ser guitarrista
Mas não sei solar

Quero ser escritor
Mas não tenho paciência
Quero fazer humor
Mas me falta sapiência

Quero ser ladrão
Mas não boto medo
Quero ser escrivão
Mas não tenho enredo

Quero ser malandro
Mas me falta esperteza
Quero ser arqueiro brando
Mas não tenho destreza

Quero ser clínico
Tenho medo de sangue
Quero ser cínico
Mas sou um tanto langue

Quero ser escalador
Mas tenho vertigem
Quero ser estuprador
Mas eu respeito virgem

Na minha vida incerta
Sou um ser sem nome
Só posso ser poeta
Pra morrer de amor e fome

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Boca, Vinho E Ballet

O desejo do Arlequim
É o mesmo que sinto
Tua boca e vinho tinto
Num ballet belo e sem fim!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Culto Adeus

Quero
Fraterno
Eterno
Espero

Esmero
Cultuo
Flutuo
Desespero

Adeus
Não quero
Supero
O Deus

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Aos 60

Não lembro do último dia
Que você veio me ver
Acabar com a calmaria
Veio cheia de energia
Doida pra me enlouquecer

Quando eu menos esperava
Você começou devagar
Parecia que me atocaiava
Parecia que me buscava
E não sabia onde procurar

Tal como uma puta fria
Que começa meio sem sal
Mas esquenta minha alegria
Quem me dera essa magia
Não fosse só um carnaval

Que é uma vez por ano
Demora até sua vez chegar
Parece uma eternidade e tanto
Mas não dura quanto
Eu acho que tem que durar

Mas já não me importo
Já não ligo mais pra isso
Hoje eu só me comporto
Olho pra trás e me conforto
Pois, um dia, fui submisso

Mas assim é minha vida
E meus sonhos assim morrerão
Hoje já está absolvida
Não quero mais essa bandida
Essa bastarda dessa ereção!

sábado, 14 de agosto de 2010

Tão Cedo

Já está indo embora?
Toma mais um copo
Isso, ou eu te dopo
Você vai justo agora?

Fuma mais um cigarro
Esquece o que passou
Me diz quem me matou
Ou na angústia me amarro

Ainda está cedo pra ir
Sobra vinho na taça
Vem aqui e me abraça
O céu nem começou a cair

Senta e me ressuscita
Me acalma com um sorriso
Me beija de improviso
Me dá a tua guarita

Eu ainda estou com medo
Não vá saindo tão triste
Por favor, não desite
Ainda está muito cedo

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Deicídio

Meu Deus, o que eu fiz?
Não vejo mais o teu amor
De ti, só sinto o rancor
Não morri por um triz

Conheceste o demônio em flor
Camuflada de fiel amiga
Serpente fazendo intriga
Fez-te vil e pecador

Não me vias à tua frente
Após horas de preparo
Minhas pernas escancaro
E me fazias evanescente

Ser sem igual na terra
Sagrado e onipotente
O Deus mais imponente
Mas Ele também erra

Até então não tinha ciência
De como tu me controlavas
Das vezes que tu me calavas
Esta era tua triste tendência

Não vou ser mais uma infeliz
Não quero mais teu sorriso
Nem perecer diante do paraíso
Nem nosso nome riscado de giz

Não quero passear à esmo
Soltar de vez minha libido
Naquele tom maior sustenido
Não... Não quero mesmo

Eis-me para o Deicídio
Mato agora teu Deus em mim
Dando ao meu pranto um fim
Neste bem pensado suicídio

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Beijo De Um Poeta

Ainda hoje sou descrente
Que a pequena infante
Menina chamada Rayane
Saiu do teu áureo ventre

És toda a cândida beleza,
Tens a chave dos prazeres,
Dentre todos os seres
És a mais bela da natureza

Para te mostrar o meu amor,
Todo meu carinho e apreço
À tua amizade eu agradeço

Te presenteio, minha flor
Sem rodeio e sem dilema
Com um beijo em forma de poema

domingo, 25 de julho de 2010

Romântico

Flores para uma flor
A lua, tímida, se esconde
Eu beijo tua fronte
Com todo o meu amor

Tome, é o meu melhor poema
De amor ele é entalhado
O mais belo e bem acabado
Sem soslaio e sem dilema

O meu amor é sem fim
Grande como o universo
Verdadeiro, sem inverso
E forte como o carmim

Isso seria, quem sabe
O ensaio de um cego
Um burro alter ego
Que aqui não cabe!

O romântico de verdade
Sofre em silêncio e só
Tem a mulher e tem um nó
Que não desata por caridade

No século dezenove, sim!
Existiam românticos
Com seus tristes cânticos,
Amadas, dilemas, enfim!

Um sentimento no lixo
Completamente alterado
Sem dó foi dilacerado
E transformado em bicho

Estranho hoje em dia
Metamorfoseado em moda
Vergonha que incomoda
Pecado que não expia

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Capoto No País Das Maravilhas


CAPOTO: Mó mazela aqui em casa... Mãe! Vou pra rua! Nada pra fazer aqui, vou chegar lá na praia e ver qual é a de mesmo! Ih... Que coelho doidera!!! From hell mesmo! Vou atrás dele! [...] Que bicho pra correr da porra! Eita carai! Ahhhhhhhhhh... [...] Porra... De onde veio aquele buraco, e que lugar doideeeeera é esse? Ah, foda-se! Sim! Aquele coelho...

COELHO BRANCO: Atrasado! Estou atrasado!

CAPOTO: Ei coelho doido! Tu vai correndo pra onde, meu irmão?

COELHO BRANCO: Não escutou? Estou atrasado!

CAPOTO: Ei! Peraí, porra! Meu irmão.. Vou atrás desse doido! Já tô por aqui mesmo. [...] O miserável corre demais! Eita! DOIDEEEEERAAAA!!! Uma lagarta gigante fumando narguilé! E aí Lagarta, qual a boa?

LAGARTA AZUL: Quem é você?

CAPOTO: Meu nome é Túlio Capoto, mas pode me chamar de Capoto! E esse narguilé aí, é massa?

LAGARTA AZUL (dá um trago): Você gosta?

CAPOTO: Nunca fumei narguilé, só o meu vaporizer... Me dá um trago?

LAGARTA AZUL: Sinta-se à vontade...

CAPOTO: Massa... Me dá essa parada aí! [...] MEU IRMÃO!!! DOIDEEEEEERA!!! Tem o quê nisso aqui?

LAGARTA AZUL: É uma mistura de ervas secreta, desculpe, mas não posso te contar!

CAPOTO: De boa... Me diz aí, tu viu um coelho branco passar correndo feito um doido por aqui?

LAGARTA AZUL (apontando pra esquerda): Sim! Ele passou correndo por esse caminho, por entre essas árvores!

CAPOTO: É quente, bicho! Vou atrás dele... Jah loooove...

LAGARTA AZUL: Garoto estranho...

CAPOTO: Ei! Coelho doido! Cadê vo... cê? Lugarzinho legal hein? E aí bicho? Dando uma festinha é? Gostei do chapéu!

CHAPELEIRO MALUCO: Obrigado! É o meu preferido! Venha e junte-se a nós! Estamos festejando o nosso desaniversário! O meu e por coincidência, também o da Lebre de Março!

LEBRE DE MARÇO: Chá?

CAPOTO: Pode crer! Que onda é essa de desaniversário?

LEBRE DE MARÇO: Sabe o dia que você nasceu, que você comemora o seu aniversário? Pois é... Não é esse!

CAPOTO: Oxe! Tipo, todos os outros são?

CHAPELEIRO MALUCO: Ora, claro!

CAPOTO: Então hoje é o meu desaniversário também!

CHAPELEIRO MALUCO: Que coincidência! Então vamos comemorar!

LEBRE DE MARÇO: Chá?

CAPOTO: Não sou muito chegado em chá, mas me dá essa porra aí que eu vou tomar!

LEBRE DE MARÇO (enchendo uma xícara): Tenho certeza de que você vai gostar!

CAPOTO (dando um gole): Eita porra! Esse chá é de quê, véi?

CHAPELEIRO MALUCO: Ah... É feito com uma flor branca, muito rara que se parece uma corneta e que nasce nas fezes do Jaguadarte!

CAPOTO (consigo mesmo): Qualquer semelhança é mera coincidência... A lua tá massa hoje, parece um sorriso! Ei Do Chapéu! Esse teu chá é dos bons. Já tô vendo a lua aumentando, aumentando... Eita porra!!! Um gato!?

CHAPELEIRO MALUCO: Ah! Eis o nosso mais honrado convidado, o Gato de Cheshire!

GATO DE CHESHIRE: Olá, pode me chamar apenas de Mestre Gato!

CAPOTO: Gato falante!? Um coelho eu até aturo, mas um gato!? Isso é pura loucura!

GATO DE CHESHIRE (com um sorriso enorme): Loucura... Mas o que é a loucura senão o que vivemos no nosso dia a dia?

CAPOTO: Ah, não me vem com filosofia não, senão vai arriar a minha lombra...

GATO DE CHESHIRE (contrariado): Nesse caso, vou-me! Adeus Chapeleiro! Adeus Lebre! Quando este insignificante ser for-se, eu voltarei!

CAPOTO: Meu irmão! Ele virou fumaça! Eu queria saber fazer isso...

CHAPELEIRO MALUCO: Não ligue pro Mestre Gato, ele é um tanto sentimental!

LEBRE DE MARÇO: Mais chá?

CAPOTO: Quer me matar? Não! Tá bom de chá! E eu vou atrás daquele coelho doido. Se bem que eu nem sei por que eu tô atrás dele, mas como eu já vim parar na Viagemlândia...

CHAPELEIRO MALUCO: Viagemlândia!? Não, meu garoto! Aqui é o País das Maravilhas!

CAPOTO: Ah... Tanto faz... Vocês viram o Coelho Doido?

CHAPELEIRO MALUCO: O Coelho passou por aqui e estava indo pro castelo! Quer uma carona?

CAPOTO: E tu tem carro, porra?

CHAPELEIRO MALUCO: Que carro que nada! Seja lá o que isso for! Você vai no meu chapéu! Tome um gole deste chá e você vai ficar pequeno por um tempo, para poder montar no meu chapéu! Não que você precise diminuir muito, mas será necessário!

CAPOTO: Agora foi que fudeu! Mas já que eu tô na chuva mesmo! Me dá logo esse chá!

CHAPELEIRO MALUCO: Chuva? Mas nem tem sinal de chuva! Você fala cada coisa estranha! [...] Pronto! Agora que está pequeno, suba aqui na aba... Isso... Agora, dê adeus à Lebre

CAPOTO: Falou Lebre! Tu é brother, meu irmão! Jah love!

CHAPELEIRO MALUCO (jogando o chapéu): Não fuja dos seus sonhos!!!

LEBRE DE MARÇO (arremessando uma xícara em direção ao chapéu, no ar): Tome mais chá!!!

CAPOTO: AAAAAHHHHHHH! Isso roda mais do que pião! Vou vomitar, caralho!!! [...] Eca! Me melei todo, nesse chapéu do inferno, quase quebrei o meu braço quando caí e essa porra dessa Lebre quase acerta essa xícara gigante em mim! E o Chapeleiro lá disse pra eu não fugir dos meus sonhos? Esse bicho tá muito doido! Eita porra! Ainda bem que eu cresci logo. O que é isso no chapéu dele? Há, há!!! É o doce!!! Vou guardar pra depois, o chá ainda tá dando lombra...

COELHO BRANCO: Atrasado! Estou atrasado!

CAPOTO: Olha ele ali! Ei miserável! Droga... Entrou naquele castelo! Vou lá, ver qual é a de mesmo! [...] Oxe, meu irmão! Que porra é essa? Hahahaha! Era só o que me faltava: cartas de baralho gigantes, pintando flores brancas de vermelho! Ei, galera! Qual foi a bronca aí?

DOIS DE ESPADAS: Nós plantamos flores brancas, mas a Rainha tinha nos mandado plantar flores vermelhas e se ela vir isso, vai mandar cortar a nossa cabeça!

CAPOTO: Que ozzy, velho! Me dá um pincel desses que eu vou ajudar vocês!

TRÊS DE ESPADAS: Ah, claro! Tome este! Desde já, lhe agradecemos!

CAPOTO: Oxe, zero bronca! Bora pintar logo essa parada, porque eu quero achar aquele Coelho!

DOIS DE ESPADAS (alarmado): Você se refere ao Coelho Branco? Ele passou por aqui apressado pra falar com a Rainha, com certeza, vem mandar uma mensagem pra decapitar alguém!

CAPOTO: Afff... Esse lugar dá pra mim não! [...] Ei! Que som de corneta é essa?

DOIS DE ESPADAS: É a Rainha! Ela vem vindo e vai mandar nos matar!!!

TRÊS DE ESPADAS: A Rainha! Estamos mortos, com certeza! Salve sua vida, meu bom homem!

CAPOTO: Peraí galera... Uma rainha não ia mandar decapitar ninguém por causa disso! Eu vou trocar uma ideia com ela e vocês vão ficar de boa!

TRÊS DE ESPADAS: Dois, ele enlouqueceu!

DOIS DE ESPADAS: Com certeza, Três! E Não podemos fazer mais nada! Ih! Lá vem ela! Rápido, curvem-se!

RAINHA DE COPAS: Ora, mas quem vejo aqui, se não é um dos "não é um dos guardas"!

CAPOTO: Rainha, vê só qual é a parada...

RAINHA DE COPAS: COOOOORTEM A CABEÇA!!!

CAPOTO: Porra! Me fudi! Excelentíssima Rainha, vossa magnanimidade poderíeis, por ventura, escutar o que eu tenho pra lhe indagar?

RAINHA DE COPAS: Hmmm... Desembucha!

CAPOTO: Estava eu a passar por aqui quando vi os seus bravos guardas pintando as flores e...

RAINHA DE COPAS: COOOOOORTEM AS CABEÇAS!!!

TRÊS DE ESPADAS: Ah... Ele tinha que falar? Ela nem tinha percebido!

DOIS DE ESPADAS: Esse é o nosso fim, Três...

CAPOTO: Peraí pow! Que fim que nada! Vê só: Rainha, perdão pela nonsense que lhe falei, mas, se vossa reverendíssima me deixar eu posso explicar por que os guardas estavam a pintar suas flores!

RAINHA DE COPAS: Última chance, barbudinho!

CAPOTO: Eu passei por aqui, distraído, há uns dias atrás e, por um infortúnio do destino, dei um encontrão num dos guardas e ambos fomos ao chão. Nisso, acabamos por trocar os pacotes de sementes de flor. Então, por minha culpa, os seu valentes e fiéis guardas plantaram as flores de cor errada!

RAINHA DE COPAS: Você disse que passou há alguns dias?

CAPOTO: Sim...

RAINHA DE COPAS: COOOOORTEM A CABEÇA!!!

CAPOTO: O quê?

RAINHA DE COPAS: Pensa que eu sou idiota? Como foi que as flores cresceram tão pouco tempo?

CAPOTO: Er... É que eu tinha comigo um envelope com um superfertilizante, que também acabou por ser trocado no incidente...

RAINHA DE COPAS: Hmmm... Então não foi culpa dos guardas?

CAPOTO: Não!

RAINHA DE COPAS: Então a culpa foi toda sua?

CAPOTO (receoso): Bem... sim, mas...

RAINHA DE COPAS: COOOOORTEM A CABEÇA!!! E dessa vez, não tem volta!

CAPOTO (tomando coragem): Oxe, que porra nenhuma! Vou usar a minha magia mais poderosa de todas!!!

RAINHA DE COPAS: O quê? Se atreve a me desafiar?

CAPOTO: Sim! E é um desafio de coragem!

RAINHA DE COPAS: Pois saiba que eu sou a criatura mais corajosa de todo o reino!

CAPOTO: Com isso, posso entender que vossa santidade aceitou o desafio?

RAINHA DE COPAS: Claro que sim!

CAPOTO: Pois bem! Você conhece aquela lagarta azul que vive na floresta e fuma narguilé?

RAINHA DE COPAS: É óbvio que conheço!

CAPOTO (puxando algo do bolso): Ótimo! Isso facilita bastante. O meu desafio será esse: você terá que fumar isso aqui!

RAINHA DE COPAS: E se for veneno!

CAPOTO: Dou minha palavra de que não é, minha rainha! Se desejares, posso fumar com você também!

RAINHA DE COPAS: Tudo bem! Acendo logo isso!

CAPOTO (se apressando com um isqueiro): Pronto! Lembre-se de que, ao tragar, deve prender bem a fumaça nos pulmões!

RAINHA DE COPAS (insegura): Não sou idiota! É claro que eu sei!

CAPOTO (enquanto a rainha traga, falando consigo mesmo): Espero que essa seja da boa... Ah! Rainha, para melhorar, você pode escutar uma música!

RAINHA DE COPAS: Isso aqui é bom... Ainda pode melhorar?

CAPOTO (tirando o celular do bolso): Escuta aí o som de Bob Marley!

♪ No sun will shine, in my day today (no sun will shine)...♫

RAINHA DE COPAS: Onde é que eu arrumo mais disso hein? Se me disser, está perdoado e será poupado!

GATO DE CHESHIRE (aparecendo de repente): Olá, garoto! O Chapaleiro me mandou, dizendo que você poderia estar em apuros e como eu devo uma ao chapeleiro, vim te ver!

CAPOTO: Bem na hora! Me tira daqui, Mestre Gato, por favor!

RAINHA DE COPAS: Não ouvi uma resposta ainda...

GATO DE CHESHIRE: Então prepare-se para sumir!

CAPOTO (sumindo com o Mestre Gato): Rainha! Siga o Coelho Branco! Hahahaaaa!!! [...] Oxe! Tô no meu quarto! Que sonho doidera da porra!!! Vou fumar o meu baseado pra lombrar com ele! Oxe, cadê o meu fininho? Ei! Que porra é isso no meu bolso? Uma cartela de doce... Será que...? Não...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Flor De Ir Embora

Ela é bela como o mar
Triste como a morte
Pode ser o meu norte
Qual flor posso te dar?

Uma rosa pra te encontrar
Uma flor cheia de beleza
Ou um brinco de princesa
Pra eu poder te enfeitar?

Miosotis azul como o céu
Será que você a recusa
Porque prefere, minha musa
Um simples anis de papel?

Uma íris da praia pra você
Que eu amo em segredo
Ou fará o meu enredo
Um beijo pintado à mercê?

Não me aproximo de ti
Como uma lantana, do sol
Ou como peixe de um anzol
Tenho medo de me destruir

Você é uma gota-de-orvalho
Única, sem sofreguidão
Eu sou mais um na multidão
Uma carta num baralho

Você é dália, peônia, azaleia
Lírio, ciclame, magnólia e manacá

Me embrigado aqui, ali e acolá
De teu amor, nem tenho ideia

Você parece labiata escondida
Nunca aparece na rua
E quando sai, à luz da lua
Te vejo só, triste e perdida

E quando tomo fôlego ao sol
Te encontro de olhos fechados
E meus sonhos são arruinados
Lá se vai meu girassol

Flor de seda, agora sem jardim
Dar-te-ia uma flor de te amar
Ou apenas uma flor de encontrar
Podia ser um simples jasmim

Podia ser uma flor de te beijar
O que seria meu doce desejo
E podia te dar, nesse ensejo
Uma flor de nos arraigar

Qual seria sua flor amada?
Só o que posso dizer
É que o cravo pode ser
A flor mais indesejada

Qual delas, não sei agora
Mas posso me aproximar
E, finalmente te dar,
Uma flor de ir embora

sábado, 19 de junho de 2010

Lascívia

Numa noite que acabava
Com os amigos, reunido
No bolso, um estalido
O celular que vibrava

Um pedido foi ouvido
E as minhas mãos tremeram
E os lábios encolheram
Vou caminhando perdido

Os braços me envolveram
Ébrios olhos se fitaram
As carícias começaram
E as bocas enlouqueceram

Nossos lábios se encontraram
Lascívia às escondidas
Olhos vendo as mordidas
Mas as horas nos faltaram

As coisas mal resolvidas
Ocorreram bem devagar
Só não sei como olvidar
Todas aquelas feridas

Se eu puder te amar
Com a cabeça vazia
Em uma noite fria
Irás sempre te lembrar

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A garota, o homem e o médico que se julga Deus

GAROTA:

Aos 16 anos me encontro em depressão pela segunda vez. Acho que são aqueles livros que eu leio. Lembro-me que Schopenhauer falou certa vez que "A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos". É... No meu bolso eu sei que tenho muita coisa, mas na cabeça é que eu não tenho certeza... Ou quem sabe os namorados que eu arranjo por aí. Alguns já me disseram que não entendem o motivo de eu ser assim... Mas assim como? Ou talvez a minha família cheia de defeitos. Muitos gritos e brigas todos os dias! Não sei pra quê todo esse estresse... O caso é que não me sinto bem comigo mesma. Saca gauche? Pois é... Estou alheia da vida há muito tempo, embora eu sempre me esforce para melhorar. Não consigo mais ficar onde estou. Fato! Bom, agora eu vou acabar com isso, pois sei que o sofrimento da subvida é pior que a dor física, que, acho eu, nem vou sentir tanto. Tomo um banho quente e demorado, penteio meus longos cabelos com esmero e prendo-os num rabo-de-cavalo, depois, visto um vestido confortável e a minha velha e boa sandália de couro. Pego meu iPod e vou pra rua. Dave grita no meu ouvido: "Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?”. Realmente, alguém está tomando o melhor de mim. Alguém ou algo... Não sei. Olho para todos os lados, procurando um jeito de escapar. Pode ser o mais simples possível, mesmo sem poesia ou romance, não importa. Ah! Moto em alta velocidade! Ótima oportunidade. O impacto vai ser tão forte que eu nem vou sentir dor. Um... Dois... Três... JÁ!


HOMEM:

Finalmente hoje é meu dia de folga! Sem estresse do trabalho, burocracia ou pessoas chatas me rodeando. Hoje vou dar um passeio, esquecer os estudos um pouco. Defendi minha tese de doutorado há dois meses. Vou subir mais um degrau. Hoje, posso dizer que sou um homem feliz e a poucos passos da realização pessoal. Dou aula de Literatura numa Universidade Federal, ainda sou substituto, mas eu estou perto de ser integral. Estou casado com uma mulher linda que amo e que o sentimento é recíproco. Meu garoto está com quatro anos agora e é uma peste! [risos de satisfação] Só de pensar o quanto eu sofri pra escalar essa montanha, meus olhos começam a marejar... Morei na favela, filho de mãe sem pai, amigos desviados do caminho tido como certo para a sociedade... Tive tudo para já estar morto por uma bala perdida com endereço certo, mas contrariando a "ordem das coisas", hoje eu venci na vida, claro que eu digo isso do ponto de vista do capitalismo, idiota e necessário. Passei o dia com a minha esposa e meu filho, mas agora, às 16h vou pegar minha moto e dar uma volta. Tomo um banho, visto aquela velha combinação de jeans e camiseta branca pego meu celular, os fones de ouvido e meu capacete. Minha mulher odeia minha moto, mas eu tenho uma sensação de plena liberdade quando a estou pilotando. Sei dos riscos que corro, por isso, em área urbana sou mais prudente até do que o necessário. Antes de partir, ligo o MP3 Player do meu celular e escuto Highway To Hell do AC/DC! Existe música melhor pra se andar de moto do que AC/DC? Ao sair, mando um beijo pra minha mulher, olho pro meu filho, ergo a mão fechada e levanto o indicador e o mindinho! O garoto faz o mesmo e dá uma gargalhada. Assim, lá vou eu com o vento no rosto e a liberdade na mente. Droga! Esqueci minha carteira com meus documentos! Agora é torcer para não ser parado numa blitz. Mas o dia está tranquilo, sem trânsito, vou andando a esmo me despindo das preocupações triviais. Canto para todos ouvirem: "I'm on a highway to he-"


MÉDICO:

Seis anos cursando, mais dois anos de residência, apenas um vestibular. Ainda fui o laureado da minha turma, mas sinceramente, eu não sei pra quê tanta besteira. No momento, estou de plantão num hospital público. Um dos maiores do estado. A fila de pacientes come solta lá fora enquanto eu procuro sexo casual pela internet. Como sou doutor, as cachorras correm atrás de mim. Casado? Sou sim e o que isso tem de mais? Monogamia é para os idiotas e fracos! Para mim, quanto mais, melhor. Droga! Alguém me chama, parece que ocorreu um acidente com um motoqueiro, algo do tipo. Malditos motoqueiros! O mundo seria melhor se não existissem motos! Teríamos bem menos acidentes, bem menos imprudência no trânsito! Esse cara devia estar atrasado pra pegar a mulher na cama com outro e acabou furando um sinal vermelho e atropelando alguém! Vai morrer nos corredores. Um enfermeirozinho qualquer me informa que o motoqueiro está sem os documentos, mas como estava com capacete caiu de certa forma que não corria risco imediato de morte. Já a menina, uma coisinha linda, estava mais pra lá do quê pra cá! Pois bem! Quem está na moto sempre tem a culpa. Dou assistência à garota. Toda a minha atenção é voltada para ela e dou a ordem para deixar o homem onde está que eu mandarei alguém para cuidar dele, mas o detalhe é que eu não vou chamar ninguém! Ele é um indigente e vai morrer como tal! A menina também não tem documentos, mas será tratada como uma deusa: o sacrifício necessário para a sua vida pulsar novamente será feito sem medir meus esforços. Aqui eu mando, decido quem vive e quem morre! Podem me chamar de Deus, porque aqui e tenho o dom da vida e da morte. Depois que tudo estiver bem, querê-la-ei para mim! Os primeiros socorros são feitos e logo eu a encaminho para uma sala de operação. Quatro horas depois dela entrar na sala termina todo o procedimento e a pequena deusa agora está sedada, em coma induzido para não sentir dor. A essa altura aquele maldito piloto deve estar ainda agonizando em seu leito de morte. Vou me certificar para que ninguém o encontre. Duas semanas depois minha visão do paraíso acorda e eu posso ver seus doces olhos azuis ainda perdidos, sem saber o que está acontecendo:

Médico: Bom dia!

Garota: Onde estou?

Médico: Você sofreu um acidente de moto. Algum... Imprudente deve ter avançado um sinal vermelho e te atropelou. Mas não precisa se preocupar, porque você está bem até demais.

Garota: O quê? E quanto ao motoqueiro?

Médico: Bom, infelizmente ele não resistiu...

Nesse momento a menina começa a chorar, primeiro bem baixinho e depois compulsivamente. Tentei acalmá-la, mas foi em vão. Ela olha para mim com um olhar de extremo ódio:

Garota: Eu me joguei na frente daquela moto! Queria me matar e você me salva?! Com certeza o estado daquele homem era melhor que o meu! Porque você me salvou?

Médico: Você se jogou na frente da moto? Mas eu pensei que...

Garota: Pensou errado! Agora um homem inocente morreu por sua culpa! Eu sei que eu provoquei o acidente, mas se você tivesse ajudado o homem, com certeza ele estaria bem, mas agora... O que resta pra mim?

Médico: Mas...

Enquanto eu me levanto lentamente e vou saindo do quarto, ela continua a me chamar e perguntar, mas eu não consigo prestar atenção! Eu matei um homem! Tá certo que ele já foi enterrado como indigente, mas essa menina está revoltada. Pode dar com a língua nos dentes e eu posso ser processado por negligência médica... Isso não pode ficar assim. Pego uns calmantes que tenho guardado. Certa dose pode matar uma pessoa com certeza:

Médico: Tome minha querida. Isso vai solucionar nosso problema...

Garota: O que é isso?

Médico: Tome!

Garota: Isso vai me curar?

Médico: É isso que você quer?

Garota: Não! Quero morrer em paz, só isso...

Médico: Então tome logo isso!

Garota: Quanto tempo eu vou ter depois que tomar?

Médico: Algumas horas... não muitas!

Garota: Tudo bem... Eu tomarei, mas primeiro ligue para este número e avise minha mãe. Mas só o faça quando eu estiver no necrotério!

Médico: Tudo bem! Eu dou a minha palavra!

Garota: Sua palavra não me serve de nada, mas eu não tenho escolha...

A menina tomou tudo enquanto eu saía da seu quarto. Horas depois eu liguei pra sua mãe e disse o que aconteceu. A verdade? A minha verdade! Agora é hora que voltar pro meu consultório. Ainda não arranjei diversão para hoje.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Rock Star

Músico! É a melhor profissão do mundo... é o que todos dizem, é que todos acham... Menos um músico de verdade! Enquanto todos pensam que é só farra, mulheres, drogas e, claro, música, eu vejo, burocracia, contratos, obrigações e metas! Como todo trabalho é sofrido, suado, cansativo e estressante. Tenho prazos a cumprir, shows a apresentar, DVDs a gravar, sons a mixar, semínimas a compor, cordas a trocar, instrumentos a afinar, agudos a alcançar... Tantas coisas em tão pouco tempo! Tenho que me virar só, me virar no pó, sair feito doido, senão me engolem! Meu contrato é um suicídio... Ah! Quanta ilusão o dia em que o assinei... Me prometeram céus e terras. De fato, me alçaram ao céu, mas sem um mísero pára-quedas! No momento, me encontro numa lenta queda, com um cigarro numa mão e um copo de vodka na outra, escutando um som pesado que me faz levitar. Será que vale à pena? Sinceramente... não sei... Se bem que a essa altura, já fui estuprado e o que vier é lucro! Espero ansiosamente pelo dia em que me libertarei desses grilhões que me foram impostos. Vou me juntar com uns amigos da faculdade e começar a traçar um destino em que não mandem em mim! Quero compor quando tiver inspiração e não quando me disserem que o tenho que fazer! Quero ter paz pra tocar meu violão na praia, com minha mulher e minha filha! Quero poder dormir, sem gastar horas "tentando reordenar as tarefas que eu nunca precisarei desempenhar"... Tenho meu rótulo... isso foi uma imposição da gravadora! Até então, normal isso é até necessário nos dias de hoje, pelo menos até a pessoa aparecer na grande mídia... Mas o meu rótulo é um dos piores. Não quero nem comentar, pra não entrar em depressão profunda... Ah... Gravadora... produtores... Algozes de uma mentalidade fértil! Estupradores é isso que eles são! Invadem suas ideias e a distorcem do jeito que podem para ficar "maleável à sociedade"... Porra! Vai à merda! O trabalho é meu! A música é minha e o arranjo é meu! Tá achando ruim? Vá pro inferno!!! [...] Foi mal... exagerei... É que isso é o que eu tenho entalado na garganta, engulo seco, sem cuspe e com areia! Mas eu sei que sou maior do que isso e que posso aguentar essa tortura mais um pouco, juntar uma graninha pra rescindir o contrato e andar com meus próprios pés... Bom, vou andando... Vou aquecer minha voz e estalar os dedos, pra começar a única coisa que, no momento, me dá alegria: tocar ao vivo!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Vencedor

Primeiro, posso perguntar:
Preciso permanecer preso?
Parafrasear para pensar?
Parto, paixão, pranto, peso.

Linhas lamentavelmente ligadas
Leis limitando luzes lassas
Lucidez e lembranças logradas
Lampejos legitimando liças

E quando eu puder te olhar
Encarar-te sem medo
Eu precisarei de um mar
Pra valer meu enredo

Que será pobre e breve
Palavras soltas no ar
Congeladas numa neve
Um frio pra te matar

Valho-me de Quintana e Drummond
Apesar das pedras no caminho
Nessa guerra, estou no front
Elas passarão, eu passarinho

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pupilo de Amon-Rá

Já fui uma pequena semente
Querendo ser grande e imponente
Regado, pude crescer livremente
Virei broto quase de repente

Sobrevivi à muitas tempestades
Senti frio, fome e também calor
Ansiava por grandes cidades
De suas brisas, sentir o sabor

Enquanto isso, fitava Amon-Rá
começava às cinco da matina
E continuava até ele descansar
E essa sempre foi minha rotina

Até que fui decepado do jardim
Me jogaram num lugar indesejado
Lá, ainda senti aroma de jasmim
Depois, abri os olhos, alarmado

Onde estou? Como vim parar aqui?
Pelo menos, pude obter respostas
Consegui ver uma sala e um guri
Onde estou? Façam suas apostas

Luzes artificiais me rodeiam
Sou um pupilo de Amon-Rá!
Será que todos me odeiam?
Assim, estou fadado a murchar

Minha cabeça cai aos poucos
Sei que eu preciso do Sol
Acho que deus só olha os loucos
Já escuto a Valsa Em Ré Menor

Por Que Não?

Ah... Dezenove anos... A melhor idade, é o que muitos dizem. Não quero nunca sair dela! Todos os olhares libidinosos, todas as mãos nervosas, todas as bocas sedentas... Ah... Adoro isso! As noites são sempre longas e nunca solitárias... Ah... ♫"Perco a voz, quero mais.. Ardente, quente como asfalto!"♪. Quero sempre mais e do melhor! Meu lema: Lassata, sed non satiata! Não sabe o que é isso? Oh... Que pena, você não serve para mim! Bom, na verdade, isso depende da sua conta bancária e da sua "boa vontade", embora nem sempre isso funcione comigo! Bom, com relação a honorários, eu nunca tinha feito questão, mas desde que eu fui ofertada pela primeira vez, pensei: "Bom, por que não? Assim, eu junto prazer aos negócios!" Pois é... Essa é minha vida: escolho por prazer ou por interesse. Se bem que se eu escolho por prazer, isso já é uma forma de interesse. Ah... Mas isso não importa, o que me importa é manter a satisfação do cliente, até porquê eu me satisfaço em tudo! Oh... Festas? Já fiz muitas, não existe nada melhor! Tantas mãos, tantas bocas, tantos seios, barrigas, pernas, costas... Ah... Estou precisando de mais uma dessas! Meus longos cabelos pretos, somados a minha pele alva e a minha miopia, despertam algo inexplicável neles! Ah... Quanto mais eles gostam, mais me envaideço, mais me banho num fogo intenso e pecaminoso. Acho que nunca vou ter do que reclamar, eles me dão tudo o que eu gosto e sei que mereço! Ah... Faço muito e faço muito bem! Pois é... Acho que nasci para isto... Oh... Não me sobra tempo livre (o que eu acho ótimo), muito pelo contrário, minha agenda está lotada pelos próximos dois meses. Tá certo que um dia ou outro é “dia de branco”, pois nem toda rosa é rosa, e nem todo santo é do pau oco! Oh... Dez da noite é hora do pecado! Quem sabe quantas famílias já destruí, quantos já caíram aos meus pés e quantas já morreram de inveja? Nem deus ou o diabo sabem! Também não quero saber, quero é aproveitar a vida. É como eu costumo dizer: Carpe diem! Ah... Aproveito a vida e me aproveito de todos que também se aproveitam de mim! Oh... Isso, para a mim é o sentido de viver: amar quem quer que seja por algumas horas e com a maior intensidade possível. Detalhe: meu rostinho de menina meiga e santinha, não desperta a desconfiança de ninguém. Sou meiga, simples, de uma ternura inigualável e dissimulada! Dissimulada sim, pois consigo ser outra pessoa durante o dia e eu mesma durante a noite! Ah... Dentro de quatro paredes, o santo revela sua verdadeira face: a face de um demônio. Oh... Demônio insaciável, que suga até as entranhas de sua vítima! Oh... A noite está no fim e bem que eu queria mais, porém amanhã de manhã, tenho aula. Estudo biblioteconomia... Eu sei que isso é um clichê, mas ainda é o melhor disfarce! "Ahhhhh..." Esse é o último gemido de amor, que morre na minha garganta... Sinceramente, eu amo quando isso acontece! "Pronto, minha querida. O dinheiro está aqui. Sinta-se à vontade para tomar banho antes de ir embora... Ah! Você foi ótima! Semana que vem a gente repete!". É por essas e outras que eu amo o meu "trabalho"!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tripalium

Mais um dia se inicia e ainda é noite... Um longa jornada tenho pela frente. Quatro horas de sono é o que separa ontem de hoje. Me banho, me visto, me mascaro. Estou pronta pra começar minha labuta, meu pau-de-arara. Caminho com muitas pessoas, durante muito tempo para chegar até a minha senzala climatizada. Bom dia ao feitor e me ponho logo em posição para os açoites. Meu primeiro carrasco chega. Vou até ele com um sorriso de plástico, me esforçando para parecer real. Ele escolhe a mercadoria, depois de meia hora escolhendo (e olhe que é apenas algo para proteger seus pés), e eu vou buscá-la no estoque. Meu dono temporário tem um cheiro horrível. Nem todos são assim, mas eu tenho que continuar mostrando satisfação. Como uma indiana que lava os pés do marido, estou eu, agachada em sua frente, e ele me olha com olhos famintos... Tenho que aguentar isso também e o pior: fingir que gosto. Depois de toda a encenação (e humilhação) ele se satisfaz, compra, me dá seu telefone (que logo após ele sair, terá o lixeiro como destino) e vai embora. Acho que sou boa atriz, pois a maioria deles ficam contentes e acabam retornando. Não demora e chega outro, e outro, e outro, e outro... E tudo se repete. Igualzinho ao anterior... Sempre a mesma coisa. Mas na hora do almoço, até escravos descansam... O que complica é essa comida cara e oleosa. Não tem nada sudável aqui. Mas fazer o quê? Deve ser o meu castigo. Depios de uma refeição rápida (tenho a liberdade de até uma hora para me alimentar e descansar, mas volto antes, senão o capitão-do-mato vem atrás!) vou ao banheiro... Queria um pouco de vida no meu rosto, mas não posso borrar minha máscara de alegria. Não posso deixar a realidade transparecer ou... É melhor nem pensar nisso. Prefiro ficar quieta e fazer o meu papel de mulher-objeto. O meu nem é tão ruim assim, só tenho que aguentar uns idiotas que aparecem e fingir que gosto! Se você pensar bem, tem coisa muito pior acontecendo por aí em relação a esse assunto. O sol se põe e eu mal o vi. As luzes artificiais é que fazem parte da minha vida. Só quando o feitor nos libera é que posso ver a luz do sol, mesmo assim ela só aparece refletida na lua. Todo o meu corpo dói e mal consigo me pôr de pé. Ainda tem todo o longo caminho de volta. Em casa, despejo água em minha cabeça para esfriar os nervos e relaxar meu corpo. Como qualquer coisa, para enganar a fome (que é um dos meus algozes durante todo o dia) e vou para o meu quarto. Deito-me como um bebê e durmo como pedra... Mas quatro horas passam mutio rápido...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Hoje Eu Quero Ficar Sóbrio

De tão ébrio fala meu coração:
"Pareces um porco, seu vadio!
Vais morrer em terreno baldio!
Quanta ignominiosa depressão!"

Mas hoje eu senti um arrepio
Quando vi um sorriso chegando
Um doce perfume se aproximando
E me explodindo sem um pavio

De tão ébrio, eu vou falando:
"Como pode existir essa beleza?
Mulher assim, só vi na realeza
É digna de passar levitando

Do coração, escuto com clareza:
"Ora, mas o que acontece aqui?
Será que estou escutando a ti?
Como foi ocorrer essa tristeza?"

Como podes me fazer um opróbrio?
Dizendo que isso é uma tristeza!?
Qual é a sua magnânima natureza?
Hoje não... hoje eu quero ficar sóbrio!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nãããããão!!!

Não vão me afogar,
Me matar, me estuprar
Não vão me esconder,
Me refazer, me tolher,

Não vão me reprimir
Me inibir, me induzir
Não vão querer meu amor
Meu ardor, minha dor

Não vão me afastar
Do céu, do sol e do mar
Não vão me querer
De manhã ou ao anoitecer

Não vão me partir
Nem nunca me seduzir
Só querem me contrapor
Me impor eterno torpor

sábado, 6 de março de 2010

Certidão De Nascimento

Quando tudo parece ir "mal"
De fato, não está tão ruim
De fato, a vida é assim
Mas posso mudar e ser "a tal"

Os dias voam sem parar
Mais rápido que um Concorde
E antes que eu me acorde
O dia passou sem me avisar

Aquelas ordens e gritos
As noites de obrigações
As indesejáveis sensações
Se foram, revelando mitos

Numa noite escura e fria
Com uma desculpa esfarrapada
Saio por aí em uma caçada
Aqui volta minha alegria

Nunca me acostumei com isso
Esse desprezo e machismo
Essa busca pelo niilismo
De mentiras, um compromisso

Não gosto de seu jeito
De como age, de como fala
De como late, ladra e cala
De como estufa seu peito

Tudo o que eu queria
Era poder fugir e sumir
Ir pra longe, me esvair
Só assim eu viveria

Num dia simples e pacato
Toda descisão foi tomada
Minha história foi rasgada
Com meus pertences, parto

Nesse dia de sol e calor
Onde meus olhos brilharam
E as estrelas, cintilaram
Fazendo renascer meu amor

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nota De Falecimento

Quando tudo parece ir "bem"
Não há motivo pra ser feliz
Nem razão para um único bis
Em tudo, pareço um refém

Os dias passam devagar
Quando estou ao seu redor
Me sinto tão menor
E saio por aí a divagar

Todas as incessantes dores
As noites mal dormidas,
Os estresses, as feridas,
Todos os odiosos rancores

Numa das noites de andança
Passando numa breve janela
Vejo a tenra silhueta dela
Aqui jaz a minha confiança

Já acostumado com a presença
Da mulher que me acompanha
Não faço questão de manha
Mas dou-lhe uma sentença

Não me dá importância
Não me vê como deveria
Não age como eu agiria
Isso desperta uma ânsia

Das mais fúnebres possíveis
Afastar-me seria o mínimo
Seria o gesto mais ínfimo
De todas as dores invisíveis

Em um infindável dia
De relutâncias e tristezas
De astúcias e proezas
Aí sim, morreu minha alegria

Num belo dia de dor
Com sensação de culpa
Os olhos pedem desculpa
Um dia viveu o amor

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dois

Eu tenho dois caminhos
Eu tenho dois destinos
Dois lugares distintos
Ambos cheios de carinhos

Se um caminho dá prazer
A outra via me assusta
Com uma mulher astuta
Preciso parar e prever

Num caminho tenho salvação
N'outro, porém, não faltará
Aventuras e libido no ar
Tenho que fazer a decisão

Num caminho tem meu coração
N'outro, porém me sobrará
Lugar para dormir e acordar
Essa é minha insana indecisão

E não vou deixar pra depois
Dos caminhos tão distintos
Desses dois loucos destinos
Eu escolho: quero os dois

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pequena

E lá vem aquela
Que derruba no chão
Qualquer samba-canção
Lá vem a pequena mais bela

Com o coração na mão,
E um sorriso na face
Sua beleza leve e fugace
Lá vem a grande tentação

Você me deixa num impasse,
Há demônios em ti, me lembro
Doce menina de Setembro
Tens uma rua para que devasse

domingo, 10 de janeiro de 2010

Verborragia Intrínseca

Explanando a necessidade de expressão
Vou trançando uns nós no coração
Gesto ignominioso o de palrar
O inescrupuloso ato de copular