sábado, 6 de junho de 2009

Relatos

Não sei o que devo fazer
Nessa vida, certo mesmo é morrer
O dia passa lentamente
Enquanto subjugo rapidamente

Pairo pelo purgatório
Pulando pelas praças
Para pisotear o pranto
Precioso para poderosos padres

Vísceras espalhadas pelo chão
Morte no campo, caindo de um avião
Dia fatal para pagar um carma
Na cabeça o capacete, na mão a arma

Morro feliz, pois levo muitos comigo
Todos no chão como um simples inimigo
Simples não! Não é fácil matar
Às vezes, penso em meu crânio atirar

Tornar-se um assassino
Matar um mero menino
Ou um pai de família
Que foi enviado para a guerrilha

Não... não é fácil viver nesse mundo
Tornar-se o mais vil cão imundo
Para depois, viver assustado
Ouvindo balas zunindo ao lado

Tremendo noite e dia
Suando numa eterna agonia
Pensando na mulher e nos filhos
Nos meus desejos, nos meus idílios

Como quero sentir o mundo ceder
Ver tudo cair, ver tudo morrer
Mares, lagos, campos e mais
Toda a dor, todos os "ais"

Sei que a vida não é boa
Sei que não sinto mágoa à toa
Se eu soubesse mudar
Se eu pudesse me transformar

Me transformaria num deus
E cessaria este adeus
Que é permanente e pesado
Repetitivamente ensaiado

Tudo acabaria num minuto;
Toda dor, todo insulto,
Toda prece, toda humilhação,
Toda tristeza, toada inibição

Vamos! cantem à vida, só temos esta!
Cantem para os santos que tanto lhes detesta!
Cantem porque o motivo existe
Cantem a alegria de ser triste!

Aguardo o momento correto
E, como cobra, dou um bote certo
Corpo caído... olhos para o céu
Na boca, o gosto amargo de fel

Não quero mais viver assim
Não quero mais estas noites carmim
Eu quero o beijo da minha esposa
E não estas asas de mariposa

Sangue para todos os lados
Até meus pés, dele, ensopados
Eu poderia estar dormindo
Ou por uma estrada, sem destino

Mas aqui estou, dando a minha vida
Uma viagem triste, só de ida
Sei que aqueles olhos, não mais verei
Mas aqueles belos olhos, jamais esquecerei

O que vejo agora é meu passado
Diante de mim, num ligeiro recado
Minha vida alegre tornou-se triste
Uma explosão de sentimentos que persiste

Estou em paz!
Olhos abertos, procurando o cais
Já sei o que eu posso fazer
Nessa vida, certo mesmo é morrer...

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