sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Soneto Aos Amantes

Você me faz querer viver
E o que é nosso está guardado
Dentro de nós, bem trancado
À sete chaves, para sobreviver

Mãos seguindo as borboletas
Lábios se mordendo em paixão
O tempo, morto, num caixão
Percorrendo nossas sarjetas

Pernas se confundindo
Novos caminhos se formam
Nosso ar se esvaindo

As faces se transformam
Se contorcem em prazer
Para findar e renascer

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Acomodado

Se sangra meu coração
Ou a morte vem me beijar
Eu nem perco o meu ar
Pois eu sou um simples vão

Não tenho paixão nem razão
Não ligo se me maldizem,
Desvalorizem ou escravizem
Pois eu sou um simples vão

Não quero saber do mundo
Pois sou um mero vagabundo
Alheio às brigas e ao sermão

Me aquieto em qualquer lugar
Parado, vejo o tempo passar
Pois eu sou um simples vão

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Me Consome

Já pensei de tudo um pouco
Em esquecer de te amar
Em ir embora, me refugiar
Até pensei que estava louco

Tentei abandonar o mundo
Me afogar no meu choro
Viver a base de soro
Como um pobre moribundo

Mas isso eu não consigo
Pois é tudo tão maior
E grande é nosso castigo

Na eternidade fica pior
Amor que nunca some
Volta e me consome!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu Preciso De Você

Eu preciso de você
Como um bolo precisa de areia
Como uma mosca precisa da teia
Ou um doutor, d'um livro de ABC

Eu preciso do teu amor
Como um faquir precisa de comida
Como um diabético, de uma ferida
Ou das vaias, precisa o cantor

Eu preciso te ter!
Como um morcego precisa do sol
Como o peixe precisa do anzol
Ou um anoréxico, de emagrecer

Eu pereciso da tua presença
Como da miséria, os plebeus
Como um ateu anseia por dEUS
Ou melhores amigos, de uma desavença


Por favor, não vá embora!
Preciso terminar esse poema
Ou vai me deixar com problema
Meu contrato ainda vigora!

domingo, 31 de outubro de 2010

Fada

Depois de uma garrafa de absinto, eis que nos surge uma inspiração realmente horrorshow! Mostro-lhes, ó, queridos leitores, o que nasceu naquela noite banhada de verde!












De repente, vi uma fada

Uma fada verde, uma fada quente
Uma fada caliente
Aguçando a minha mente

Entrelaçando o meu corpo
Nas tripas, sinto um aborto
No meu corpo sinto um calor
Um calor verde
Que na minha rede
Faz-me gozar, sonhar de amor

E nestes versos sucintos
Com goles de absinto

Sinto em minha mente
Alegria, nestes versos dormentes
Lembranças e tristezas presentes
Do verde que um dia foi presente!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fiat Lux

Os maiores sacrifícios
As maiores dores
Todos os dissabores
Com poucos artifícios

Nos viramos em mil
Pra cumprir uma missão
E a fazemos com paixão
Com o coração febril

Sem amor, não anda
Trabalho mal feito
Não temos o despeito
De entrar nessa ciranda

Incitamos a curiosidade
Do infinito saber
É o belo alvorecer
Que as cabeças invade

É o brilho do sol
Raiando o dia
Trazendo a alforria
Lento qual caracol

O trabalho é duro
Às vezes, nem compensa
Caçada sem recompensa
Mas é honrado e puro

É essa honra que nos conduz
E temos autoridade de dEUS
Pra dizer aos filhos teus:
Faça-se a luz!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Teimosia

Ora quero, ora não
Ora beijo, ora bato
Ora bom, ora chato
Ora espero, em oração

Horas a fio
Passam devagar
Fico a esperar
Aquele arrepio

Nem tanto assim
Nem oito, nem oitenta
Nem três ele aguenta
É bom, mas não pra mim

É tudo o que preciso
Bonito, inteligente
Um futuro pela frente
E chegou sem aviso

Bonito... pode ser
Inteligente... também
Mas ele não me convém
Ele só quer aparecer

Vou me atirar fundo
Me jogar em seus braços
Já anseio os amassos
E nascer a cada segundo

Já não escuta a razão
Não raciocina mais
Já está longe do cais
Só ouve seu coração

Essa história já presenciei
Vai mergulhar no mar
E depois, vai se afogar
Só não diga que não avisei

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Coração De Poeta

Pronto para encantar
Como num passe de mágica
Ou como morte trágica
Pode te fazer chorar

Não tem rosto, nem medo
Nem tamanho, nem idade
Nem peso, nem saudade
Nem vida, nem enredo

Não é doce, nem azedo
Não é cura, nem veneno
Nem grande, nem pequeno
Nem água, nem rochedo

É tudo e também nada
É vida e também morte
É azar e a melhor sorte
E nem todos agrada

Não é meu nem é seu
De todos e de ninguém
Faz o que lhe convém
Para nobre ou plebeu

É começo, meio e fim
É dEUs e diabo
No seu verso desabo
É tudo de bom e ruim

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Senhora

Tens tua raiz nativa
Em teu nome és senhora
E chegas sem demora
Das bocas, escorre saliva

Dizem que do bom veneno
Basta apenas uma dose
Pra viver em simbiose
E tu és um frasco pequeno

Mas és toda tentação
Apesar de ser perigosa
Yin, mulher audaciosa

Antes de pedir permissão
Rasga como boa mordida
Amores sem peso ou medida

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amarguras De Um Gauche

Quero ser palhaço
Mas não faço rir
Quero ir pro espaço
Mas terei que partir

Quero ser ator
Mas não sei representar
Quero ser cantor
Mas não sei solfejar

Quero ser violonista
Mas não sei dedilhar
Quero ser guitarrista
Mas não sei solar

Quero ser escritor
Mas não tenho paciência
Quero fazer humor
Mas me falta sapiência

Quero ser ladrão
Mas não boto medo
Quero ser escrivão
Mas não tenho enredo

Quero ser malandro
Mas me falta esperteza
Quero ser arqueiro brando
Mas não tenho destreza

Quero ser clínico
Tenho medo de sangue
Quero ser cínico
Mas sou um tanto langue

Quero ser escalador
Mas tenho vertigem
Quero ser estuprador
Mas eu respeito virgem

Na minha vida incerta
Sou um ser sem nome
Só posso ser poeta
Pra morrer de amor e fome