segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Vencedor

Primeiro, posso perguntar:
Preciso permanecer preso?
Parafrasear para pensar?
Parto, paixão, pranto, peso.

Linhas lamentavelmente ligadas
Leis limitando luzes lassas
Lucidez e lembranças logradas
Lampejos legitimando liças

E quando eu puder te olhar
Encarar-te sem medo
Eu precisarei de um mar
Pra valer meu enredo

Que será pobre e breve
Palavras soltas no ar
Congeladas numa neve
Um frio pra te matar

Valho-me de Quintana e Drummond
Apesar das pedras no caminho
Nessa guerra, estou no front
Elas passarão, eu passarinho

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pupilo de Amon-Rá

Já fui uma pequena semente
Querendo ser grande e imponente
Regado, pude crescer livremente
Virei broto quase de repente

Sobrevivi à muitas tempestades
Senti frio, fome e também calor
Ansiava por grandes cidades
De suas brisas, sentir o sabor

Enquanto isso, fitava Amon-Rá
começava às cinco da matina
E continuava até ele descansar
E essa sempre foi minha rotina

Até que fui decepado do jardim
Me jogaram num lugar indesejado
Lá, ainda senti aroma de jasmim
Depois, abri os olhos, alarmado

Onde estou? Como vim parar aqui?
Pelo menos, pude obter respostas
Consegui ver uma sala e um guri
Onde estou? Façam suas apostas

Luzes artificiais me rodeiam
Sou um pupilo de Amon-Rá!
Será que todos me odeiam?
Assim, estou fadado a murchar

Minha cabeça cai aos poucos
Sei que eu preciso do Sol
Acho que deus só olha os loucos
Já escuto a Valsa Em Ré Menor

Por Que Não?

Ah... Dezenove anos... A melhor idade, é o que muitos dizem. Não quero nunca sair dela! Todos os olhares libidinosos, todas as mãos nervosas, todas as bocas sedentas... Ah... Adoro isso! As noites são sempre longas e nunca solitárias... Ah... ♫"Perco a voz, quero mais.. Ardente, quente como asfalto!"♪. Quero sempre mais e do melhor! Meu lema: Lassata, sed non satiata! Não sabe o que é isso? Oh... Que pena, você não serve para mim! Bom, na verdade, isso depende da sua conta bancária e da sua "boa vontade", embora nem sempre isso funcione comigo! Bom, com relação a honorários, eu nunca tinha feito questão, mas desde que eu fui ofertada pela primeira vez, pensei: "Bom, por que não? Assim, eu junto prazer aos negócios!" Pois é... Essa é minha vida: escolho por prazer ou por interesse. Se bem que se eu escolho por prazer, isso já é uma forma de interesse. Ah... Mas isso não importa, o que me importa é manter a satisfação do cliente, até porquê eu me satisfaço em tudo! Oh... Festas? Já fiz muitas, não existe nada melhor! Tantas mãos, tantas bocas, tantos seios, barrigas, pernas, costas... Ah... Estou precisando de mais uma dessas! Meus longos cabelos pretos, somados a minha pele alva e a minha miopia, despertam algo inexplicável neles! Ah... Quanto mais eles gostam, mais me envaideço, mais me banho num fogo intenso e pecaminoso. Acho que nunca vou ter do que reclamar, eles me dão tudo o que eu gosto e sei que mereço! Ah... Faço muito e faço muito bem! Pois é... Acho que nasci para isto... Oh... Não me sobra tempo livre (o que eu acho ótimo), muito pelo contrário, minha agenda está lotada pelos próximos dois meses. Tá certo que um dia ou outro é “dia de branco”, pois nem toda rosa é rosa, e nem todo santo é do pau oco! Oh... Dez da noite é hora do pecado! Quem sabe quantas famílias já destruí, quantos já caíram aos meus pés e quantas já morreram de inveja? Nem deus ou o diabo sabem! Também não quero saber, quero é aproveitar a vida. É como eu costumo dizer: Carpe diem! Ah... Aproveito a vida e me aproveito de todos que também se aproveitam de mim! Oh... Isso, para a mim é o sentido de viver: amar quem quer que seja por algumas horas e com a maior intensidade possível. Detalhe: meu rostinho de menina meiga e santinha, não desperta a desconfiança de ninguém. Sou meiga, simples, de uma ternura inigualável e dissimulada! Dissimulada sim, pois consigo ser outra pessoa durante o dia e eu mesma durante a noite! Ah... Dentro de quatro paredes, o santo revela sua verdadeira face: a face de um demônio. Oh... Demônio insaciável, que suga até as entranhas de sua vítima! Oh... A noite está no fim e bem que eu queria mais, porém amanhã de manhã, tenho aula. Estudo biblioteconomia... Eu sei que isso é um clichê, mas ainda é o melhor disfarce! "Ahhhhh..." Esse é o último gemido de amor, que morre na minha garganta... Sinceramente, eu amo quando isso acontece! "Pronto, minha querida. O dinheiro está aqui. Sinta-se à vontade para tomar banho antes de ir embora... Ah! Você foi ótima! Semana que vem a gente repete!". É por essas e outras que eu amo o meu "trabalho"!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Tripalium

Mais um dia se inicia e ainda é noite... Um longa jornada tenho pela frente. Quatro horas de sono é o que separa ontem de hoje. Me banho, me visto, me mascaro. Estou pronta pra começar minha labuta, meu pau-de-arara. Caminho com muitas pessoas, durante muito tempo para chegar até a minha senzala climatizada. Bom dia ao feitor e me ponho logo em posição para os açoites. Meu primeiro carrasco chega. Vou até ele com um sorriso de plástico, me esforçando para parecer real. Ele escolhe a mercadoria, depois de meia hora escolhendo (e olhe que é apenas algo para proteger seus pés), e eu vou buscá-la no estoque. Meu dono temporário tem um cheiro horrível. Nem todos são assim, mas eu tenho que continuar mostrando satisfação. Como uma indiana que lava os pés do marido, estou eu, agachada em sua frente, e ele me olha com olhos famintos... Tenho que aguentar isso também e o pior: fingir que gosto. Depois de toda a encenação (e humilhação) ele se satisfaz, compra, me dá seu telefone (que logo após ele sair, terá o lixeiro como destino) e vai embora. Acho que sou boa atriz, pois a maioria deles ficam contentes e acabam retornando. Não demora e chega outro, e outro, e outro, e outro... E tudo se repete. Igualzinho ao anterior... Sempre a mesma coisa. Mas na hora do almoço, até escravos descansam... O que complica é essa comida cara e oleosa. Não tem nada sudável aqui. Mas fazer o quê? Deve ser o meu castigo. Depios de uma refeição rápida (tenho a liberdade de até uma hora para me alimentar e descansar, mas volto antes, senão o capitão-do-mato vem atrás!) vou ao banheiro... Queria um pouco de vida no meu rosto, mas não posso borrar minha máscara de alegria. Não posso deixar a realidade transparecer ou... É melhor nem pensar nisso. Prefiro ficar quieta e fazer o meu papel de mulher-objeto. O meu nem é tão ruim assim, só tenho que aguentar uns idiotas que aparecem e fingir que gosto! Se você pensar bem, tem coisa muito pior acontecendo por aí em relação a esse assunto. O sol se põe e eu mal o vi. As luzes artificiais é que fazem parte da minha vida. Só quando o feitor nos libera é que posso ver a luz do sol, mesmo assim ela só aparece refletida na lua. Todo o meu corpo dói e mal consigo me pôr de pé. Ainda tem todo o longo caminho de volta. Em casa, despejo água em minha cabeça para esfriar os nervos e relaxar meu corpo. Como qualquer coisa, para enganar a fome (que é um dos meus algozes durante todo o dia) e vou para o meu quarto. Deito-me como um bebê e durmo como pedra... Mas quatro horas passam mutio rápido...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Hoje Eu Quero Ficar Sóbrio

De tão ébrio fala meu coração:
"Pareces um porco, seu vadio!
Vais morrer em terreno baldio!
Quanta ignominiosa depressão!"

Mas hoje eu senti um arrepio
Quando vi um sorriso chegando
Um doce perfume se aproximando
E me explodindo sem um pavio

De tão ébrio, eu vou falando:
"Como pode existir essa beleza?
Mulher assim, só vi na realeza
É digna de passar levitando

Do coração, escuto com clareza:
"Ora, mas o que acontece aqui?
Será que estou escutando a ti?
Como foi ocorrer essa tristeza?"

Como podes me fazer um opróbrio?
Dizendo que isso é uma tristeza!?
Qual é a sua magnânima natureza?
Hoje não... hoje eu quero ficar sóbrio!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nãããããão!!!

Não vão me afogar,
Me matar, me estuprar
Não vão me esconder,
Me refazer, me tolher,

Não vão me reprimir
Me inibir, me induzir
Não vão querer meu amor
Meu ardor, minha dor

Não vão me afastar
Do céu, do sol e do mar
Não vão me querer
De manhã ou ao anoitecer

Não vão me partir
Nem nunca me seduzir
Só querem me contrapor
Me impor eterno torpor

sábado, 6 de março de 2010

Certidão De Nascimento

Quando tudo parece ir "mal"
De fato, não está tão ruim
De fato, a vida é assim
Mas posso mudar e ser "a tal"

Os dias voam sem parar
Mais rápido que um Concorde
E antes que eu me acorde
O dia passou sem me avisar

Aquelas ordens e gritos
As noites de obrigações
As indesejáveis sensações
Se foram, revelando mitos

Numa noite escura e fria
Com uma desculpa esfarrapada
Saio por aí em uma caçada
Aqui volta minha alegria

Nunca me acostumei com isso
Esse desprezo e machismo
Essa busca pelo niilismo
De mentiras, um compromisso

Não gosto de seu jeito
De como age, de como fala
De como late, ladra e cala
De como estufa seu peito

Tudo o que eu queria
Era poder fugir e sumir
Ir pra longe, me esvair
Só assim eu viveria

Num dia simples e pacato
Toda descisão foi tomada
Minha história foi rasgada
Com meus pertences, parto

Nesse dia de sol e calor
Onde meus olhos brilharam
E as estrelas, cintilaram
Fazendo renascer meu amor

sexta-feira, 5 de março de 2010

Nota De Falecimento

Quando tudo parece ir "bem"
Não há motivo pra ser feliz
Nem razão para um único bis
Em tudo, pareço um refém

Os dias passam devagar
Quando estou ao seu redor
Me sinto tão menor
E saio por aí a divagar

Todas as incessantes dores
As noites mal dormidas,
Os estresses, as feridas,
Todos os odiosos rancores

Numa das noites de andança
Passando numa breve janela
Vejo a tenra silhueta dela
Aqui jaz a minha confiança

Já acostumado com a presença
Da mulher que me acompanha
Não faço questão de manha
Mas dou-lhe uma sentença

Não me dá importância
Não me vê como deveria
Não age como eu agiria
Isso desperta uma ânsia

Das mais fúnebres possíveis
Afastar-me seria o mínimo
Seria o gesto mais ínfimo
De todas as dores invisíveis

Em um infindável dia
De relutâncias e tristezas
De astúcias e proezas
Aí sim, morreu minha alegria

Num belo dia de dor
Com sensação de culpa
Os olhos pedem desculpa
Um dia viveu o amor

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dois

Eu tenho dois caminhos
Eu tenho dois destinos
Dois lugares distintos
Ambos cheios de carinhos

Se um caminho dá prazer
A outra via me assusta
Com uma mulher astuta
Preciso parar e prever

Num caminho tenho salvação
N'outro, porém, não faltará
Aventuras e libido no ar
Tenho que fazer a decisão

Num caminho tem meu coração
N'outro, porém me sobrará
Lugar para dormir e acordar
Essa é minha insana indecisão

E não vou deixar pra depois
Dos caminhos tão distintos
Desses dois loucos destinos
Eu escolho: quero os dois